Mais um dia e mais um pequeno drama na Xesfera de tecnologia. Agora a galera da comunidade brasileira de desenvolvedores está tretando sobre como devemos montar nossos currículos de desenvolvedor.
Se você abriu o link, deve ter visto a imagem de um possível currículo, de um suposto candidato que possui 24 anos de experiência. A pessoa decidiu que era válido listar todas as tecnologias que já trabalhou ou tem certificado.
Além disso, nessa única página, ainda encontramos logos das empresas para qual trabalhou e, pasmem, 2 versões do currículo: uma versão em inglês e outra em espanhol. É impressionante por bons e maus motivos.
Como minha cabeça transforma muita treta e drama em conteúdo, fiquei pensando no que eu mais gostaria de ver em um currículo de um candidato a uma vaga na minha equipe.
A resposta mais simples é: depende. São inúmeras variáveis e até um pouco de sorte entra na equação. Abaixo descrevo alguns fatores deveriam afetar como você formata seu currículo e que você sempre deveria ter em mente:
Imagine que duas vagas tem desenvolvedor no título. Agora, imagine que as vagas são Desenvolvedor de Interfaces e Desenvolvedor PHP. Será que os recrutadores da primeira vaga buscarão as mesmas habilidades e experiências que as da segunda vaga?
Ambas podem esperar que você tenha algum nível de programação, mas o foco de ambas será bem diferente. É provável que também esperem que você saiba utilizar Git com GitHub (ou alternativas), Markdown para documentação, e algum gerenciador de projetos (GitHub Projects, Trello, ou Jira). Porém, as similaridades param por aí.
Para a primeira, eu esperaria que seu currículo tivesse foco em tecnologias e habilidades como:
Também esperaria que mostrasse conhecimento em soluções para componentização com JavaScript, como React, Vue, e Svelte, ou mesmo Web Components.
Já para a segunda, esperaria que seu currículo tivesse foco em:
Também esperaria ver sobre seu uso de soluções PHP, como Laravel, Symfony, e Laminas/Zend.
Como pode ver, mesmo tendo uma base em comum, elas são diferentes o suficiente e trazem expectativas diferentes em relação aos candidatos.
Quanto mais experiência se tem em desenvolvimento, mais certos tipos de conhecimentos são esperados de um desenvolvedor.
Se você está aplicando para vagas Junior, mostre que tem domínio sobre o básico necessário da vaga. Deixe bem claro onde começa e terminar seu conhecimento. Mostre que está com sede de aprendizado.
Para uma vaga mais Sênior, mostre que tem conhecimentos ou experiências de liderança e mentoria de equipe; que é capaz de lidar com grupos distintos envolvidos (Design, Direito, Suporte, Marketing...); que tem experiência em se comunicar em nível gerencial ou mais alto.
Mas como mostrar isso no currículo? Use a área da experiência profissional. Para cada emprego, descreva em poucas palavras (de 50 a 120 palavras) quais foram suas tarefas e os pontos fortes da sua posição.
Veja dois exemplos:
Desenvolvedor PHP Junior na Empresa AlphaBetaGama: Fui responsável por resolver tickets de erros levantados por usuários. Modificava classes na estrutura do Laravel seguindo padrões de projeto apresentados pelo Sênior para ajustar funcionalidades. Ajudava em Revisão de Código e com testes unitários e de aceitação. Implementei pequenos sistemas de suporte para a equipe.
Desenvolvedor PHP Sênior na Empresa OmegaDeltaTeta: Fui responsável pelo controle de qualidade da publicação e manutenção do produto. Participava de reuniões com diretores onde apresentava números de performance e resultados de testes multivariados. Dava mentoria para juniores e participava do processo de recrutamento da área de TI da empresa. Criei soluções que permitiram a empresa adentrar novos mercados.
Independente do país da vaga, mesmo quando é o Brasil, é bom deixar claros os seguintes pontos:
Sempre deixe claro o seu nível de inglês. Mesmo quando aplica para vagas brasileiras, mostrar que tem conhecimento em inglês é um ótimo diferencial.
Recomendação pessoal: Não minta sobre seu nível. Durante uma possível entrevista, o recrutador vai saber distinguir. Não é preciso gramática perfeita ou sotaque nativo. Basta se fazer ser entendido e entender os outros.
Se a vaga é em um país que o idioma nativo não é o inglês, mesmo que a vaga esteja descrita em inglês, deixe claro seu nível do idioma local. Geralmente, grandes empresas não têm problema quando você não possui conhecimento do idioma do país, mas empresas menores podem requerer esse conhecimento.
Dependendo do país e da empresa, patrocinar o visto vai desde mandar cartas confirmando que querem contratar você para o órgão responsável, até pagamento de taxas, pagamento de relocação. Então deixe claro em qual situação você está para não acontecer de passar por todas as etapas e ser cortado por conta disso.
Empresas costumam receber dezenas ou centenas de currículos para uma vaga. Fazer seu currículo se destacar em meio a tantos currículos é essencial. Porém, se alguma delas tem um modelo padrão ou método próprio de candidatura, use-o.
Lembre-se que é perda de tempo, principalmente para empresas grandes, um currículo cheio de conteúdo irrelevante para a vaga.
Suas experiências de trabalho contam bastante. Não adianta colocar que você foi assistente de padaria por 6 meses cerca de 5 anos atrás quando for se candidatar a uma vaga de Desenvolvedor de Sistemas Sênior com foco em Java para Android.
Não é errado ter tido essa experiência de assistente de padaria. Emprego é emprego e ajuda a pagar as contas. Mas será que esse conhecimento de assistente de padaria é relevante para a vaga?
Algumas empresas costumam ter pessoas dos Recursos Humanos, caça talentos, ou recrutadores profissionais fazendo uma avaliação inicial dos currículos.
Eles geralmente não são tão capazes de julgar tecnicamente se seu currículo é ruim, bom, ou excelente para a vaga. O que eles sabem e vão fazer é procurar palavras-chave relacionadas à vaga dentro do seu currículo.
Essas palavras chave são dadas pelo líder da equipe, gerente de desenvolvimento, ou a pessoa mais Sênior que será responsável pela vaga e futuro funcionário. Se os recrutadores não encontram essas palavras-chave facilmente, as chances do seu currículo ser deixado de lado são bem grandes.
Faça-se um favor e coloque palavras-chave da sua experiência que valham para vaga.
Um ponto importante e triste que tenho de levantar é que, infelizmente, além dos fatores citados acima e dos muitos outros que pesam num currículo, ainda há empresas e pessoas usam de discriminação em recrutamento.
Não é raro ver casos pela internet de casos de vagas em que candidatos relataram preconceito, racismo, misoginia, xenofobismo e etarismo durante a avaliação de currículos e de suas entrevistas.
Contra isso, não temos muito o que fazer. Torça para que não aconteça isso com as vagas que você se candidatar. E se acontecer, denuncie, porque é contra a lei.
Com meus anos de experiência participando de bancas de recrutamento na empresa em que trabalho aqui na Europa, tanto para minha equipe quanto para outras equipes, temos uma lista de características que procuramos em um currículo de desenvolvedor:
Como já falei, inglês é necessário. Garanta que você também tem uma versão totalmente traduzida, sem erros gramaticais e sem erros em nomes de tecnologias (GitHub vs Github; PayPal vs Paypal; etc) ou no nome da empresa para qual está se candidatando.
Se a vaga for brasileira (ou portuguesa), mande as duas versões: português e inglês. Vai parecer um currículo grande, mas os recrutadores entenderão que é uma versão traduzida do seu currículo.
Por mais besteira que pareça, ter esse cuidado e iniciativa mostra mais que conhecimento no idioma, mostra que você pensa nos detalhes e busca ir além.
No Brasil, não é costume ter carta de apresentação, mas no exterior é algo recomendável. Algumas vagas até colocam como requisito o envio de uma. Então prepare uma e anexe ao seu currículo.
Nela, fale de forma resumida sobre você, sem repetir o que já está na parte técnica do currículo. Aproveite para mostrar um pouco do lado humano por trás das habilidades e números, e como escolher você seria uma decisão acertada para a empresa.
Evite ficar apenas nos clichês de que é organizado, obstinado, atencioso, pontual, participativo em equipe, e coisas do tipo.
Diga que gosta de manter a equipe no auge da tecnologia usada, que não tem medo de questionar decisões em momentos difíceis ou duvidoso, que não apenas se mantém atualizado mas que traz novas ideias e busca implantar novas tecnologias.
Foque no essencial: Nome (primeiro e último nomes), meio de contato (email, telefone se tiver no mesmo país da vaga), repositório público (por exemplo, perfil no GitHub), perfil no LinkedIn.
A não ser que a candidatura requeira, evite colocar foto, sexualidade (masculino, feminino, trans, etc), identificação social (ele/dele, ela/dela, elu/delu, etc), idade, nacionalidade, e origem. De forma alguma, esses pontos deveriam se sobrepor às suas capacidades técnicas e sociais para preencher a vaga.
Caso queira apresentar algum desses pontos, utilize a carta de apresentação.
Se a candidatura tiver sido feito através de email, deixando currículo impresso no local, ou estiver em uma candidatura especulativa – não tem uma vaga aberta ou algo que seja seu perfil, mas você enviou seu currículo mesmo assim – identifique qual vaga ou que tipo de vaga você está buscando.
Facilita bastante para os recrutadores e para as pessoas dos Recursos Humanos quando você não é aceito para uma vaga em específico de um departamento mas existe vaga equivalente em outro.
As bancas de recrutamento que participo, não nos atemos ao tamanho do currículo. Ele pode ser de 1 página ou de 10 páginas. Apenas saiba que, quanto mais páginas, menor será a probabilidade dele ser totalmente lido.
Se você tiver conteúdo suficiente, recomendo currículo entre 2 e 4 páginas. Assim, coloca informações suficientes, relevantes, e tem espaço suficiente para não ficar abarrotado.
Para facilitar a vida dos recrutadores, é sempre bom seguir uma certa estrutura quando apresentar sua experiência profissional e acadêmica, e suas habilidades. O ideal é que seja nessa sequência apresentada abaixo.
O principal motivo para isso é porque a Experiência profissional bem descrita costuma entregar bastante sobre o que a pessoa fez ou não fez em uma determinada posição. Assim, ela abre caminhos para saber se a experiência acadêmica e habilidades apresentadas foram postas em prática ou não.
Mais uma vez, lembre-se de colocar apenas as experiências e habilidades relevantes para a vaga em questão. Os recrutadores podem ver outras habilidades ou experiências que você tem através de seus links para o GitHub, LinkedIn e um possível site pessoal.
Minha primeira recomendação é escrever seu currículo utilizando Markdown, dessa forma você tem certos limites em relação à formatação e estilização do seu currículo.
Como o Markdown é basicamente um formato para escrita simples, provendo apenas, métodos para negrito e itálico, listas, tabelas simples e títulos, você terá de utilizar uma estrutura simples e semântica para apresentar suas informações.
Depois de escrito, copie o conteúdo para o Word ou Google Docs. Formate-o com fontes legíveis, nada de fonte menores que 12pt. Elas são horríveis de ler, tanto em telas quanto impressas. Use bom espaçamento entre parágrafos e entre linhas. Ajude o texto do seu currículo a "respirar". Isso dará um ar de mais estruturado, conciso, e profissional.
Não esqueça de adicionar links onde forem precisos, afinal, se você enviar um PDF para sua candidatura, os recrutadores poderão clicá-los e acessá-los mais facilmente. Uma vez finalizado, ao invés de deixar seu currículo apenas em preto e branco, mude os cabeçalhos e títulos com uma cor diferente, deixando o corpo do texto em preto.
Caso queira um exemplo de currículo seguinda essas dicas, dá uma olhada no modelo que fiz usando alguns dados meus e uma vaga fictícia.